segunda-feira, 17 de setembro de 2007

C.33 para Oscar Wilde c/ amor


C. 33

O amor de um homem
pode transpor os muros
de uma prisão?
É manhã,
as grades das celas
foram abertas...
o capelão rabugento
nos saúda.
Os primeiros raios de sol
cortejam o horizonte.
Guardo comigo
as reminiscências de felicidade
de quando eu era apenas
uma criança e observava
meus pais sentados
a mesa de jantar,
e lamentavelmente
volto a dura realidade
de ser apenas um vulgo
prisioneiro.
Estamos perfilados,
eu e meus desconhecidos
companheiros,
compartilhamos o mesmo silêncio
e a mesma jornada de tortura.
Aqui não nos é permitido
uma só palavra,
tudo fica devidamente reprimido
no fundo do peito
esfaqueado pela dor.
Mais uma noite,
ardendo em febre
devaneios torpes
trazem-me seu rosto.
Para que me serve
o amor dentro desta
cela fria e solitária?
Repito seu nome
bem baixinho
que é para os guardas
não ouvirem.
No cárcere só nos
é permitido chorar,
um exercício diário
para nós homens
desgraçados,
por possuir coração.
O dia segue sua rotina,
horas de trabalho árduo
que dura uma eternidade
no compasso das badaladas amargas.
Há uma insuficiente refeição
que alimenta nosso corpo,
e quem alimenta
nosso espírito?
Novamente volto-me
para minhas lágrimas
e elas percorrem minha
minha face como ácido.
Dignidade e honra
sentimentos escassos
nesta condição
que minha própria
vida me presenteou.
Quero confessar meu
Pecado a morte,
e será delito
amar o mundo?
Que recompensa o universo
oferece por cada fracasso?
Para onde seguirão
todas as almas
que o mundo julgou
bastardas?
Estes foram meus
Freqüentes questionamentos
durante os dois anos
que estive recluso
da minha existência real,
apenas por amar
um homem.
Qual a justiça
mais nobre,
a do céu ou do inferno?
Olho esse uniforme cinza
e vejo o peso dos anos
nos meus ombros
desajustados e doentes...
na penumbra da madrugada
sinto que deixei de ser
humano e numa fera
sem forma e sem alma
transformei-me.
O amor contém
uma linha imaginária,
tênue, entre o jubilo e
á tragédia.
Ouço os pássaros
neste pátio desolado,
onde obscuras histórias
se confundem e
separam-se.
Outrora fui um homem
propenso a sagacidade
a ironia e o sarcasmo
e glórias,
hoje reduzido ao caos,
a miséria
a derrota
e a morte prematura
da minha genialidade.
O vento levará meu espírito
ao recanto infinito dos amantes,
e eu hei de retornar a este mundo
na forma do sagrado coração
de Deus...
que os enamorados
lembrem-se de mim...
Sempre!!!
Viver é uma arte
enquanto amar
é um sacrifício.

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