sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Morrissey "o maior inglês vivo."


Steven Patrick Morrissey, cantou e compositor, nasceu no dia 22 de maio de 1959 na cidade de Manchester, Inglaterra. Morrissey é o segundo filho de Peter Morrissey e Betty Dwyer, que migram de Cumlin, Irlanda, em busca de novos horizontes na Inglaterra.
Morrissey, leitor voraz foi influenciado pela literatura de Oscar Wilde, John Keats, Yeats, Shakespeare... teve uma infância difícil, certa vez o cantor comentou que sua educação teve vestígios da irmandade cristã, proveniente da Irlanda, origem de seus antepassados.
A grande parte de seus professores eram irlandeses, brutais e na maioria das vezes homossexuais, acusados de maus tratos. Morrissey relatou que aquela educação escolar não era propriamente uma educação, mas sim violência e brutalidade, alunos freqüentemente apanhavam na sala de aula e todos continuavam sentados e em silêncio.
Nas palavras do bardo inglês “...Tudo que aprendi foi não ter auto-estima e sentir vergonha sem saber porquê... por fazer parte da classe trabalhadora”.
Esses relatos do próprio cantor nos dão uma idéia de como a formação escolar nos prepara
para a vida adulta, ou nos torna inválidos emocionalmente. Muitos desses questionamentos permearam as letras e as atitudes do cantor. Numa canção intitulada November spawned a monster (Novembro Gerou um Monstro), versos tristes “continue dormindo e sonhe com o amor, porque é o mais perto que você chegará do amor... mas se Jesus me fez, então, Jesus salve-me da pena e da compaixão e pessoas discutindo sobre mim.”
Manchester, cidade basicamente industria não gerava muitas oportunidades de emprego na década de 70, morrissey começou a trabalhar em 1977, como balconista de uma loja e logo depois foi co-escritor da banda Nosebleeds, que tinha como um dos integrantes o guitarrista Billy Duff do The Cult. Em 1978 se tornou balconista de uma loja de discos em Manchester, e dois anos depois porteiro de um hospital.
Em 1982, conhece o futuro guitarrista e parceiro Johnny Marr, o garoto introspectivo mostra suas letras para o novo amigo, juntam-se aos dois o baterista Mike Joyce e o baixista Andy Rourke. De 1982 a 1987, The Smiths dominaram a cena da música pop mundial. São considerados a segunda maior banda depois dos Beatles.
As letras sinceras e sarcásticas de morrissey e a guitarra fenomenal de Johnny Marr, são a melhor parceria depois de Lennon e McCartney.
Canções como Hand in Glove, This Charming Man, Still Ill, What Difference does it Make, Reel Around The Fountain e inúmeras outras tocavam fundo a alma dos jovens da década de 80, imagine os homens de 30 e 40 anos hoje, que eram os que choram escutando The Smiths. Em 2000, quando Morrissey esteve no Brasil, deu para ter uma idéia da horda fanática que acompanha o cantor, vi muitos chorando como criança e eu mesmo nem me importei em não reprimir minhas lágrimas. Era o nosso grito, a nossa geração estava presenciando um dos últimos “Cérebros Geniais da Música Mundial”.
Sua performance arrebatadora, e sua voz poderosa e inconfundível rasgava as alma como uma faca amolada, mais que um culto de idolatria cega, a devoção remetida a Morrissey é bastante compreensível, num mundo egoísta e individualista, quem ainda consola as pessoas fazendo música de qualidade? Morrissey, certamente tem seu nome escrito nos murais de cada individuo que busca uma identidade própria, procurando carinho, imagine se o Renato Russo tivesse tido tempo para ver esse show, certamente amaria, devido a sua grande afinidade com poeta do Rock.
Com o fim oficial dos Smiths em 1987, Morrissey seguiu em carreira solo, a critica sempre pegou pesado com ele, a inglesa principalmente, muitos o chamavam de “a eterna viúva de Johnny Marr e do Smiths”. Maldade para um cara como Morrissey que foi discriminado e acusado de racismo apenas por empunhar a bandeira da Inglaterra em seus shows.
Suedehead, música do seu primeiro disco solo, Viva Hate tem um Vídeo Clip muito singular, uma homenagem a James Dean. Morrissey foi até Indiana, cidade natal do ator norte americano, percorrendo os pontos que marcaram a vida do mesmo.
Depois de sofrer vários ataques da mídia inglesa Morrissey muda-se da Inglaterra, morou na Irlanda, Estados Unidos e atualmente mora na Itália, onde gravou seu mais recente disco. Em 1997 viveu um período muito difícil, quando gravou o disco “Maladjusted” pela gravadora Mercury, e não foi um sucesso comercial, para ajudar a então gravadora em questão faliu, deixado-o num beco sem saída porque tinha seu nome vinculado a muiti-nacional, não permitindo que ele assinasse contrato com outra gravadora, para piorar a situação frágil da carreira, Mike Joyce entra com um processo judicial contra Morrissey acusando-o por centrar os direitos autorais do “The Smiths” em si e em Johnny Marr, desde o inicio pagando parcelas mínimas aos outro dois “Joyce e Rourke”.
Moral da história: Morrissey foi condenado a pagar a Mike Joyce 1 milhão de libras, e ainda o juiz responsável pelo caso o chamou de “truculento e pouco confiável”. Andy Rourke contentou-se com 83 mil libras.
Todas esta intempéries não impediram o cantor de realizar em 1999 uma turnê mundial intitulada “Oye Steban”, que por onde passou carregou uma multidão, esgotando os ingressos rapidamente. Depois do amargo ostracismo, sem discos por sete anos, Morrissey finalmente assinava novo contrato com uma gravadora, “Sanctuary” cria um selo exclusivo “Attack”, lança um disco aclamado pela critica e público, “You Are The Quarry” de 2004, nele Morrissey volta mordaz atacando George W. Bush e a ilusória democracia americana: “A América é a terra dos livres e das oportunidades, mas o presidente não pode ser negro, mulher ou gay” (América In Not The World). O titulo de outra canção denuncia uma verdade desse mundo contemporâneo: “O mundo está cheio de pessoas chatas” (The World Is Full Of Crashing Bores). Esse disco o fez voltar a Manchester num show de comemoração de seu aniversario e o fato de na época fazer 10 anos que ele não pisava em sua terra natal.
Morrissey continua com sua língua afiada, destilando sarcasmo e ironia, defendendo causas dispares como (vegetarianismo, celibato e sua solteirisse). E atacando com veemência (Margaret Thatcher, Princesa Diana e Madonna).
Aos 48 anos ele propaga sua elegância, um verdadeiro esteta, sempre bem vestido nos seus ternos estilosos, Morrissey envelhece com dignidade sem perder o charme, muitos ainda insistem em compará-lo ao tempo dos Smiths quando tinha 25 anos e era magérrimo e pálido.
Seu mais recente trabalho “Ringleader Of The Tormentors” abre com a seguinte inscrição: “Ninguém sabe o que é a vida humana...Porque Viemos, por que partimos...Então porque sera que eu sei?”. (I Will See You In Far Off Places), anuncia o começo do disco, com uma guitarra ensurdecedora, a segunda ameniza o clima pesado e nuclear que a letra sugere.
(Dear God, Please Help Me) “Querido Deus, Ajude-me por favor”, com os arranjos de Ennio Morricone, sim o mesmo que compôs a maravilhosa trilha do filme “(Cinema Padiso de 1986)” versos reveladores nesta balada “E eu estou tão, tão cansado/·De fazer a coisa certa·/Querido Deus, ajude-me por favor”.
Já na terceira faixa – (You have killed me), ele mostra suas influências de intelectuais e artistas italianos: (O Pasolini sou eu/ O Accattone será você... O Visconti sou eu/
A Magnani você nunca será.) Pasolini um dos mais geniais cineastas, poeta e jornalista italiano de todos os tempo, foi morto brutalmente numa periferia em Roma, Accattone é um filme de Pasolini que narra a história de prostituição masculina. Luchino Visconti um dos criadores do neo-realismo do cinema italiano, fez inúmeros clássicos dentre eles: “Rocco e Seus Irmãos” O Estrangeiro e etc... Anna Magnani foi uma musa do cinema italiano, inclusive do próprio Visconti e Rosselini.
Século XXI, ano 2007 e Morrissey continua confirmando com sua presença e discos, que é o maior poeta do Rock, como já disse o jornal britânico Gardian “O maior inglês vivo”, ele faz jus a tal título, sendo íntegro a seus pensamentos e fazendo um trabalho bem acima da média, que as bandas novas levaram muito tempo para se igualar ou talvez isso nunca aconteça.
A última faixa do disco “Ringleader Of The Tormentors” sintetiza bem tudo que já foi dito até aqui, esperamos que ele continue vivo e forte, escrevendo belas canções de amor e cantando de forma emocional e sincera, o autêntico Morrissey brilha muito... brilha tanto que faz a inveja dos medíocres brotar.
Segue a letra maravilhosa do seu mais recente disco.

Enfim, Nasci – (At Last I Am Born)

Enfim, nasci
Historiadores, tomem nota
Eu finalmente nasci

Havia uma época em que eu perseguia o amor que me foi retirado
Mas hoje apenas me recosto e bocejo
Porque eu nasci, nasci , nasci

“Olhe para mim agora
Da criança-problema
Até a mão espectral, até Claude Brasseur
Ó, blá, blá, blá. ...”

Enfim, nasci
Incultos, tomem conhecimento
Eu finalmente nasci

Havia uma época em que eu achava que o desespero aumentava com o tempo
Mas hoje não me importo mesmo
Porque eu nasci, nasci , nasci

“Olhe para mim agora
Da criança-problema
Até a mão espectral, até Claude Brasseur
Ó, blá, blá, blá. ...”

Enfim, eu nasci
Enfim, eu nasci
Vivendo uma vida livre e honesta, nascido

Havia uma época em que eu acreditava que eu tinha inúmeras razões para chorar
E eu chorei mas eu não choro mais
Porque eu nasci, nasci, nasci

Enfim, eu nasci
Enfim, eu nasci
Demorou um tempão
Mas agora nasci

Havia uma época em que eu era uma bagunça de culpa por causa da carne
É incrível o que se pode aprender
Se você nascer, nascer, nascer
Nascer, nascer, nascer
Nascer, nascer, nascer



*Nunca saí, com alguém... Ninguém neste mundo pode dizer que teve algo real comigo...isso seria mentira. (Morrissey 1997)

*Artistas não são pessoas normais... Eu mesmo sou feito 40% de papel marchê... Mas já me apaixonei sim! E por pessoas reais, de carne e osso... O fato é que estou acostumado com a fantasia. Com o rock n’ roll. Tudo foi sempre á distancia. Como num sonho. Entendo a vida dos livros, filmes e da música. (Morrissey 1997)


* “Com certeza, depois do punk, a rebelião já tinha se tornado em si uma tradição. Não queria seguir aqueles modelos já estabelecidos de rebelião.” (Morrissey 1988)


* “Escuto muita coisa, mas raramente algo me impressiona. Ouço sempre uma tonelada de CDs que, em geral, vão parar direto na lata do lixo”. (Morrissey 2004)

* “Hoje em dia, tudo está fácil: ouvir música, criar uma canção, se tornar superstar... um moleque de onze anos com um computador pode gravar um disco no quarto. A música hoje é alvo de humilhação, é algo frívolo e inofensivo”. (morrissey 2004)


* “Minha vida é uma sucessão de pessoas dizendo adeus”. (Morrissey 2005)



* “Não sou Stephen Patrick Morrissey, sou apenas Morrissey, é assim que me chamam no mundo, Stephen me lembra um tempo em que eu era muito triste..”. (morrissey 2004)


* “cada disco que comprei está ligado a uma sensação. Eu passava tardes inteiras nas lojas lendo as fichas técnicas das capas e dos encartes”. (Morrissey 2004)