domingo, 21 de setembro de 2008

A história de Olavo Hansen


Dirigente do PARTIDO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO TROTSKISTA (PORT).

Nasceu em São Paulo, capital, filho de Harald Hansen e Borborema Hansen, em 14 de dezembro de 1937.

Olavo fez o primário em Guarulhos e continuou no Ginásio Dona Leonor Mendes de Barros, em São Bernardo do Campo, onde residia com seus familiares.

Em 1954, sua família mudou-se para Mauá e Olavo fez o científico no Colégio Américo Brasiliense, em Santo André.

Ingressou na Escola Politécnica da USP, onde frequentou até o 2º ano do curso de Engenharia de Minas.

Sempre muito estudioso, nunca deixou de trabalhar para custear seus estudos. Foi ofice-boy em várias empresas, trabalhou em bancas de jornais e montou a 1ª escola de datilografia de Mauá.

Militou no movimento estudantil e, nos anos 60, foi membro na União Nacional dos Estudantes, em São Paulo, participando das principais campanhas da entidade.

Abandonou o curso para dedicar-se integralmente ao trabalho sindical e político, não hesitando em se empregar em uma fábrica de carrocerias no bairro de Vila Maria. Como o Sindicato dos Metalúrgicos estava sob intervenção do governo, Olavo tornou-se ativo lutador da oposição sindical. Várias vezes preso, nunca esmoreceu, pois afirmava que o homem só seria feliz quando existisse igualdade entre todos.

Em seu prontuário, encontrado nos arquivos do antigo DOPS/SP, lê-se: - preso em 7 de março de 1963 por distribuir panfletos sobre Cuba; - em 1 de novembro de 1964 participou de assembléia do Sindicato dos Metalúrgicos, ocasião em que “formulou apelo para se lutar pelas liberdades democráticas e sindicais”; - preso no dia 7 de novembro de 1964 por suas atividades nas recentes assembléias do Sindicato dos Metalúrgicos; - solto através de um habeas corpus em, 30 de março de 1965; - “... consta em uma relação fornecida pelo II Exército de indivíduos que deverão ficar em observação especial durante os dias 26 a 29 de janeiro de 1968, sendo considerado perigoso”; - em 14 de outubro de 1969 teve sua prisão preventiva decretada; - preso e colocado à disposição da Delegacia de Ordem Social em 2 de maio de 1970, por estar distribuindo panfletos subversivos na praça de esportes do Sindicato dos Têxteis, no dia anterior.

Preso pelo DEOPS/SP, juntamente com mais 18 pessoas no dia 1° de maio de 1970, na praça de esportes da Vila Maria Zélia, durante comemoração operária pela passagem do Dia Internacional do Trabalho e imediatamente levado para o DOI/CODI-SP, onde foi torturado.

No dia 4 de maio, Olavo foi transferido para o DOPS, onde ficou detido na cela n° 2.

No dia 5 de maio, foi retirado da cela e conduzido à sala de torturas, onde permaneceu por mais de 6 horas. Na volta, os companheiros de cela de Olavo ouviram dele o relato das torturas sofridas: obrigado a despir-se, sofreu queimaduras com cigarros e charutos, choques elétricos oriundos do tubo de imagens de um televisor, palmatória nos pés e nas mãos, espancamentos, pau-de-arara, com afogamentos e choques elétricos, agora aplicados por um aparelho mais sofisticado e conhecido como pianola Boilesen (este instrumento leva o nome de seu criador, o industrial Albert Henning Boilesen, fundador e financiador da Operação Bandeirantes, que posteriormente passou a se chamar DOI/CODI de São Paulo).

Os presos politicos passaram a exigir que fosse chamado um médico para prestar assistência a Olavo, o que só foi realizado no dia 6 de maio. Além dos ferimentos visíveis por todo o corpo, Olavo apresentava sinais evidentes de complicações renais, anúria e edema das pernas. O médico que o assistiu, Dr. Geraldo Ciscato, lotado na época no DEOPS-SP, recomendou somente que ingerisse água, providenciando curativos em alguns ferimentos superficiais. O estado de Olavo agravava-se a cada dia. Seus companheiros de cela promoveram manifestações coletivas para que fosse providenciada assistência médica efetiva, tudo em vão.

Somente no dia 8 de maio, quando Olavo já se encontrava em estado de coma, o Dr. Ciscato voltou a vê-lo, dando ordens para que fosse removido para um hospital, deixando claro que ele não tinha a mínima chance de sobrevivência. Foi levado às pressas para o Hospital do Exército no Cambuci. No próprio hospital, e na tentativa de fugir à responsabilidade do assassinato sob tortura, os agentes injetaram em Olavo o inseticida Paration, preparando a farsa da nota oficial que seria publicada no dia seguinte.

No dia 13 de maio, a família de Olavo é informada de que ele se suicidara no dia 9. No atestado de óbito fornecido pelo IML, a causa-mortis foi intoxicação pelo inseticida Paration, constando também escoriações disseminadas pelo corpo, equimoses e a descrição de oito ferimentos.

A tentativa de dissimular o assassinato sob tortura foi denunciada na Câmara Federal por 27 sindicatos de São Paulo, 5 Federações Sindicais, pela Igreja, intelectuais e estudantes, como também por organizações sindicais latino-americanas.

Frente a estas denúncias, o governo viu-se na contingência de abrir um inquérito para apuração de possíveis irregularidades, inquérito este que foi encerrado dois meses após com o seguinte parecer: Olavo Hansen praticara o suicídio com Paration, que conseguira manter escondido em suas vestes após a prisão.

A despreocupação na apuração real dos fatos fica evidente quando se constata que nenhum dos companheiros de cela de Olavo (de onde ele foi retirado em estado de coma e desenganado pelo Dr. Ciscato) foram arrolados como testemunhas, apesar de ainda se encontrarem presos e, portanto, à disposição das autoridades.

Em denúncia pública, todos os presos políticos que se encontravam no DOPS, e que testemunharam as torturas que levaram Olavo à morte, acusaram seus assassinos, que são: delegado Ernesto Milton Dias e delegado Josecyr Cuoco, com suas respectivas equipes, sob o comando do investigador Salvio Fernandes do Monte e ainda a colaboração do Dr. Geraldo Ciscato.

Assinaram a denúncia os seguintes presos políticos: Vitório Chinaglia, Rafael Martinelli, Patrocínio Henrique dos Santos, Maurice Politi, Dulce Moniz, Gilberto Beloque, Sonia Hipólito, Tarcísio Sigristi, Marco Antônio Moro, Bety Chachamovith, Carlos Russo Jr., Waldemar Tebaldi Filho, José Claudio Barighelli, Norma Freire, Humberto Veliame, Fernando Casadei Salles, João Manoel de Souza, Maria do Carmo e outros.

Seu corpo foi entregue à familia em caixão lacrado, onde se via apenas o rosto, através de um visor e, embora fossem dezenas as testemunhas de sua prisão, tortura e assassinato, até hoje sua morte permanece sem ser esclarecida.

Assina a solicitação de exame necroscópio o Delegado Alcides Cintra Bueno Filho e o laudo os legistas Geraldo Rebelo e Paulo Augusto Queiroz Rocha, dando como causa mortis intoxicação por Paration.

O Relatório do Ministério da Aeronáutica diz: “falecido em São Paulo, no Hospital Militar, em 8 de maio de 1970, de morte natural, segundo comprovado através de inquérito, cujo Relatório, bem como o despacho de arquivamento do Juiz Auditor, foram publicados no ‘Correio da Manhã’ de 20 de novembro 1970”, versão que contraria o próprio laudo do IML.

Fonte:http://www.torturanuncamais-rj.org.br/sa/MDDetalhe.asp?CodMortosDesaparecidos=65