quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Telenovelas brasileiras



As telenovelas brasileiras deste século forjam uma realidade fantasiosa da nossa exata condição social.
Os enredos, narrativas e seus personagens são estereotipados, isto é, os sujeitos sociais são amiúde conhecido das mentalidades (empresários, médicos, políticos e industriários) representam a elite, a classe social que domina e conduz a política e a economia do país. No lado desfavorável, outros personagens (porteiros, empregadas domésticas e tipos socialmente desajustados), que mostram superficialmente os menos abastados socialmente, mas esta constatação não expõe a pobreza bem mais acentuada nas regiões distantes das grandes capitais, os indivíduos retratados nas periferias muitas vezes são caricaturas, isto é, nunca atuam no papel de substancial na trama e suas histórias são romanceadas para abrandar sua qualidade de instabilidade.
Os negros com freqüência são retratados nas novelas como empregados, servos, larápios e etc, isto nos deixa claro o preconceito velado existente na mentalidade de uma sociedade herdeira do pensamento escravista advindo do Brasil colonial.
Os países latinos que importam nossas produções novelescas imaginam através das imagens ludibriosas que o Brasil é uma “nação próspera”, por fim os principais protagonistas ostentam luxo e riquezas que a maioria da população só conhece nas telas.
Carros importados, mansões, iates, helicópteros e celulares de última geração; artefatos materiais que exclusivamente os mocinhos e heroínas da Rede Globo e afins desfrutam.
As novelas possuem vários desígnios, além de reforçar as ideologias das classes dominantes: coronéis, corruptos e espertalhões são apresentados como “homens bons”, contudo eles empregam pessoas em suas falcatruas.
Os heróis e heroínas evidenciam sua ingenuidade e sempre passam por enormes tragédias e dificuldades, mas no fim sempre vencem...Já os vilões empregam sua força e maldade levando vantagens, e a vida promove a justiça para o término da fábula, na existência real nem sempre o destino é tão generoso, pois o que prevalece é a condição e classe social, em suma, nossa formação e meio que vivemos determina a abertura ou fechamento a conquista das benesses ou prejuízos.
Outra função das novelas e pegar elementos da cultura popular e erudita e transformá-los em cultura de massa, temos exemplos claros desses aspectos, os mitos gregos e própria psicanálise são amalgamados nas histórias pitorescas narradas pelos grandes autores novelistas e como citou o historiador Peter Burke “O povo brasileiro só conhece o passado através das novelas”.
A propaganda é a principal motivação e financiamento das novelas, sem este rendimento o ramo não se sustentaria, o número de produtos e comercias exibidos nos intervalos é impressionante, e esta propaganda espessa não se desenvolve apenas nos bastidores, mas os próprios personagens usam em cena a abissal gama de produtos que o mercado venderá para o público telespectador na próxima estação. Observem que cada novela é temática e nada é imprevisto, os elementos inseridos na cena são propositais, porque determina a moda vigente na coletividade. Os jornais noticiam fatos pouco conhecidos do grande público; certa vez inúmeras noveleiras ligaram para a maior rede de TV do país perguntando como fazer para comprar o vestido “B” da heroína do momento... Imagine se esta empresa do vestido “B” não lucrou o que investiu com esta exposição de seu produto, agora pensemos nos vários produtos que aparecem nas novelas, e chegamos a conclusão que o negócio é bem mais articulado do que discorremos, os atores das novelas são garotos propaganda, usam sua imagem para vender mercadorias, e claro que existem os bons atores de TV, mas estes alimentam trabalhos paralelos para não perder a lucidez e a vontade de representar, Selton Mello é um exemplo disso.
“As novelas brasileiras se tornaram um modo fácil de suavizar os problemas da nação”. Vende e multiplica uma idéia desvirtuada do nosso povo e sua cultura, promovendo alienação em grande escala.
A verdadeira arte e os artistas são aqueles que revolucionam o meio que vivem, a arte engajada ou puro entretenimentos não podem ter compromisso com a lógica do mercado.
Os livros clássicos, filmes e etc são aqueles que cunham sentimentos e contradições humanas de maneira universal e espontânea...As novelas dissimulam estes sentimentos comuns e naturais.
As novelas brasileiras colaboram para os indivíduos não pensarem, viram pessoas passivas que não cooperam para a mudança da sociedade, resumindo é bem mais simples se emocionar com ficções sem criatividade do que pensar a realidade cruel do dia-a-dia.
Abre os olhos Brasil!
Nós somos os verdadeiros brasileiros porque queremos e desejamos a transformação da sociedade, para que ela seja mais justa e que valorize todos os elementos que a compõe...
As tramas novelescas da Rede Globo são a forma mais medíocre de representação da nossa dura realidade brasileira.
No Império Romano havia as grandes arenas dos gladiadores “pão e circo”, hoje temos os jogadores de futebol e atores (as) das novelas que cumprem com eficácia a função de alucinar esta sociedade, promovendo a velha política do “pão e circo”.
Não percam as novelas das seis, sete e oito, portanto, seremos mais felizes e acéfalos.
Eu não assisto novelas e não consumo suas bugigangas oferecidas gratuitamente, faço parte do 1% que ainda não perdeu a massa craniana.
Fica o nosso levantamento, mesmo que não mude nada, estamos fazendo nossa parte.
Os personagens normativos, caretas e moralistas são tão maçantes, os certinhos, honestos e puritanos estão sempre em voga, os bandidos, corruptos e astutos nos dão náuseas... Atenuamos nossa insignificância quando observamos que as personalidades das novelas podem gozar e viver aquilo que nunca conseguiremos, afinal a vida nunca foi e nunca será perfeita, e os supostos artistas fora das telas possuem inúmeros problemas pessoais, o que nos diferencia deles é que temos pouco dinheiro e não temos o orgasmo da fama aparecendo em revistas, jornais e etc, do resto são humanos demasiados.
A nossa vida é acordar cedo todos os dias e enfrentar o mundo, que no seu estado puro é infernal...Andar em ônibus e trens lotados, tolerar os chefes tiranos, os baixos salários, a violência urbana, o caos dos serviços públicos e o desmonte do bem estar social, essa é a novela real, sem máscaras e personas, onde todos nós somos os agentes transformadores da história, onde luxo e ostentação de nada serve quando andamos nas ruas e vemos nosso irmão deitado em baixo dos viadutos e pontes, comendo os restos de comida que o destino lhes deu, mas quando somos individualistas esses fatos não naturais “o mundo é assim mesmo” frase da sabedoria popular que esconde o descaso com o nosso meio.
“Dói menos viver de ficção”
Então não se esqueça de ligar a TV e assistir a novelesca piada que nada mais é do que uma anestesia para perder de vista nossa triste realidade.