sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Brasil da globalização- Milton Santos

A globalização pretende ser homogeneizadora, como presença obrigatória em todos os continentes e lugares. E a promessa de construção de um mundo só estaria incluída nesse movimento. Todavia, tal pretensão até agora apenas renova disparidades e cria novas desigualdades, o que é devido à violência dos seus processos fundadores, todos praticamente indiferentes às realidades locais. A aplicação brutal de princípios gerais a situações tão diversas é criadora de desordem. Por isso mesmo, a globalização beneficia apenas uma parcela limitada de atores, enquanto causa transtornos e danos à maioria das empresas e das pessoas.

Segundo as condições preexistentes nos países ou como resultado da forma como estes se dispuseram a participar do novo período histórico, os territórios e as populações conhecem uma variedade de impactos, características de sua situação atual. Há, desse modo, países mais ou menos sensíveis ou mais ou menos infensos aos resultados do processo globalitário.

Este representa uma vontade arrebatadora de dominar o mundo, para afeiçoá-lo à sua imagem, mas as conseqüências variam segundo as condições locais de adaptação à nova ordem e o próprio interesse das nações hegemônicas.

O caso do Brasil é típico. Trata-se de um país cujas elites são caracterizadas por um gosto ancestral pelas modernidades. Sua história é uma sucessão de aberturas, nem sempre confessadas, mas que redundam num processo de imitação, às vezes grotesco, mas considerado moderno. Para isso contribui de modo marcante a força das mencionadas elites na formulação do que se pode chamar de um retrato do Brasil; e até mesmo uma boa parte das elites intelectuais parece haver renunciado à constituição de uma ciência própria, contente de ir buscar lá fora aprovação e legitimação para suas práticas intelectuais. Com a emergência e expansão das classes médias ainda mais água foi levada a esse moinho, movimento para o qual o papel amolecedor do consumo foi determinante.

Recentemente, esse país já aberto deu sinais de querer abrir-se todo, a abertura sendo a principal palavra de ordem na economia, na cultura e na política. Os postulados essenciais da política econômica e até mesmo da política social são importados como um pacote fechado. É dessa forma que o Brasil se torna paralelamente um país desarmado; e, o que é pior, desarmado de dentro. E isso implica a falta de apetite para uma discussão mais aprofundada das opções que poderia seguir. Foi assim que a nação, tornada indefesa por suas próprias mãos, tornou-se uma presa fácil para tudo o que foi sugerido de fora, sem outra consideração que a obediência a esse credo. Entre os próprios bolsões de resistência, as demissões foram se dando cada vez mais numerosas, inclusive nas elites intelectuais cujo dever, entretanto, seria o de pensar criticamente as novas situações, de modo a oferecer visões diferentes e apontar as opções cabíveis. É significativo assinalar que entre as mencionadas elites intelectuais rareou a busca de interpretações globalizantes do país, ampliou-se o desinteresse pela questão nacional e, num plano mais alto, reduziu-se o debate sobre a própria questão civilizatória. Tudo isso, ajudado pelo papel da propaganda, da moda e da mídia, acaba por ter um papel claramente deformador na formação da consciência das gerações montantes, ao mesmo tempo em que as diferentes manifestações de cidadania se tornam ainda mais difusas e débeis.

Esse conjunto de circunstâncias explica a relativa demora da opinião pública para se aperceber dos malfeitos da globalização perversa e, em conseqüência, elaborar um conjunto coerente de idéias e interpretações da nova realidade nacional, de modo a influir eficazmente na vida política mediante a influência que possam ter sobre a doutrina e a prática dos partidos.

Agora, finalmente, parece que a nação acorda, ainda aturdida pelo pesadelo em que vive. É auspicioso constatar que ela está dando mostras de estar chegando a um limite quanto à aceitação da situação que se criou com a aceitação sem peias do processo de globalização. Falta, sem dúvida, que as manifestações de violência ou revolta, de inconformidade ou de desconforto que atingem a maioria da população, parem de ser aceitas e tratadas como fatos isolados e que se reconheça a vida sistêmica de todos esses males e de todas essas reações aparentemente excepcionais. Dessa forma, ver-se-á que a sua existência é devida aos efeitos da globalização perversa, que a atual política econômica insiste em preservar. Será a partir desse marco que os movimentos sociais poderão ser reestruturados e que a vida partidária poderá obter um novo elo, de modo tal que a atividade política possa dar maior atenção aos interesses da nação e ao bem-estar das classes populares.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Lênin


"Os capitalistas chamam 'liberdade' a dos ricos de enriquecer e a dos operá-rios para morrer de fome. Os capitalistas chamam liberdade de imprensa a compra dela pelos ricos, servindo-se da riqueza para fabricar e falsificar a opinião pública."
"É preciso sonhar mas com a condição de crer em nosso sonho, de observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho, de realizar escrupulosamente nossas fantasias. Sonhos, acredite neles."
"Enquanto o capitalismo e o socialismo existirem, não poderemos viver em paz. No fim, um ou outro terá de triunfar – um réquiem será cantado sobre a República Soviética ou sobre o mundo capitalista."
"Um imbecil pode, por si só, levantar dez vezes mais problemas que dez sábios juntos não conseguiriam resolver."

POEMA DE PIER PAOLO PASOLINI


A UM PAPA

Poucos dias antes de morreres, a morte
pousou os olhos em alguém da tua idade:
aos vinte anos, tu estudavas, ele era pedreiro,
tu, nobre, rico, ele, um rapazote plebeu:
mas os mesmos dias douraram sobre vós
a velha Roma, voltando a dar-lhe a sua juventude.
Vi os seus despojos, pobre Zucchetto.
Andava de noite, bêbado, à volta dos Mercados,
e um eléctrico que vinha de San Paolo atropelou-o
e arrastou-o por uns metros de carris no meio dos plátanos:
durante umas horas ficou ali, sob o rodado:
poucas pessoas se juntaram em redor, olhando-o,
em silêncio: já era tarde, havia pouca gente.
Um dos homens que existem para que tu existas,
um velho polícia, desbocado como todos os patifes,
gritava aos que se aproximavam mais: «Larguem-lhe os colhões!»
Depois veio uma ambulância buscá-lo:
as pessoas desapareceram, só ficaram uns grupos aqui e acolá,
e, mais à frente, a dona de um cabaré,
que o conhecia, disse a um recém-chegado
que Zucchetto tinha ficado debaixo de um eléctrico, que estava morto.
Poucos dias depois, morrias tu: Zucchetto era um
dos do teu grande rebanho romano e humano,
um pobre bêbado, sem família nem leito,
que andava de noite, vivendo ao deus-dará.
Tu ignoravas: como ignoravas
outros milhares e milhares de cristos como ele.
Talvez seja cruel ao perguntar por que razão
a gente como Zucchetto é indigna do teu amor.
Há lugares infames, onde mães e filhos
vivem na poeira antiga, na lama de outras eras.
Não muito longe de onde tu viveste,
à vista da bela cúpula de San Pietro,
fica um desses lugares, o Gelsomino...
Um monte cortado ao meio por uma pedreira, e no sopé,
entre um charco e uma fieira de prédios novos,
um montão de tugúrios miseráveis, não casas mas pocilgas.
Bastava um gesto teu, uma palavra,
para esses teus filhos terem uma casa:
nunca fizeste um gesto, nunca disseste uma palavra.
Ninguém te pedia que perdoasses Marx! Uma vaga
imensa que irrompe sobre milénios de vida
te separava dele, da sua religião:
mas não se fala, na tua religião, de piedade?
Milhares de homens sob o teu pontificado,
diante dos teus olhos, viveram em estábulos e pocilgas.
Tu sabias que pecar não é fazer o mal:
não fazer o bem, isso sim, é que é pecar.
Quanto bem podias tu ter feito! E não fizeste:
não houve quem mais pecasse do que tu.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Que as Crianças Cantem Livre (Taiguara)


Que as Crianças Cantem Livres
Taiguara
Composição: Taiguara

O tempo passa e atravessa as avenidas
E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
E o vento forte quebra as telhas e vidraças
E o livro sábio deixa em branco o que não é

Pode não ser essa mulher o que te falta
Pode não ser esse calor o que faz mal
Pode não ser essa gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro que é fatal

Vê como um fogo brando funde um ferro duro
Vê como o asfalto é teu jardim se você crê
Que há sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver

E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Taiguara(1945-1996)


Taiguara Chalar da Silva (Montevidéu, 9 de outubro de 1945 — São Paulo, 14 de fevereiro de 1996) foi um cantor e compositor uruguaio radicado no Brasil.

Taiguara


Taiguara, foto utilizada na capa do disco "Brasil Afri" (Movieplay, 1994).
Informação geral
Nome completo: Taiguara Chalar da Silva
Data de nascimento: 9 de Outubro de 1945
Data de morte: 14 de Fevereiro de 1996
Gênero(s): Bossa Nova MPB Samba
Instrumentos voz, Piano, Violão, Mellotron e inúmeros instrumentos de origem Africana.
Período em atividade: 1964 - 1996
Gravadora(s): EMI Odeon Phillips Continental Movieplay
Afiliação(ões): Hermeto Paschoal, Milton Nascimento, Chico Buarque, Vinicius de Moraes.
Website www.taiguara.com

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1949 e para São Paulo, posteriormente, em 1960. Largou a faculdade de Direito para se dedicar à música. Participou de vários festivais e programas da TV. Fez bastante sucesso nas décadas de 60 e 70. Autor de vários clássicos da MPB, como Hoje, Universo do teu corpo, Piano e viola, Amanda, Tributo a Jacob do Bandolim, Viagem, Berço de Marcela, Teu sonho não acabou, Geração 70 e "Que as Crianças Cantem Livres"; entre outros.

Considerado um dos símbolos da resistência à censura durante a ditadura militar brasileira, Taiguara foi um dos compositores mais censurados na historia da MPB, tendo cerca de 100 canções vetadas. Os problemas com a censura eventualmente levaram Taiguara a se auto-exilar na Inglaterra em meados de 1973. Em Londres, estudou no Guildhall School of Music and Drama e gravou o Let the Children Hear the Music, que nunca chegou ao mercado, tornando-se o primeiro disco estrangeiro de um brasileiro censurado no Brasil.

Em 1975, voltou ao Brasil e gravou o Imyra, Tayra, Ipy - Taiguara com Hermeto Paschoal e uma orquestra sinfônica de 80 músicos. O espetáculo de lançamento do disco foi cancelado e todas as cópias foram recolhidas pela ditadura militar em poucos dias. Em seguida, Taiguara partiu para um segundo auto-exílio que o levaria a África e à Europa por vários anos.

Quando finalmente voltou a cantar no Brasil, em meados dos anos 80, não obteve mais o grande sucesso de outros tempos.

Faleceu em 1996 devido a um persistente câncer na bexiga.

Milton Santos e seus importantes pensamentos...


"Estamos convencidos de que a mudança histórica em perspectiva
provirá de um movimento de baixo para cima,
tendo como atores principais os países subdesenvolvidos
e não os países ricos; os deserdados e os pobres
e não os opulentos e outras classes obesas;
o indivíduo liberado partícipe das novas massas
e não o homem acorrentado;
o pensamento livre e não o discurso único.
Os pobres não se entregam e descobrem a cada dia
formas inéditas de trabalho e de luta;
a semente do entendimento já está plantada e o passo seguinte é o seu florescimento
em atitudes de inconformidade e, talvez, rebeldia."

Milton Santos em Por Uma Outra Globalização - Do Pensamento Único à Consciência Universal

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

2008 Dois discos de Morrissey- Uma coletânea e um disco de inéditas...



O cantor britânico Morrissey anunciou a lista de músicas de sua nova coletânea, "Greatest Hits", programada para ser lançada em 11 de fevereiro. A coleção abrange 20 anos de sua carreira solo e uma edição limitada do álbum terá o CD bônus "Live At the Hollywood Bowl". O CD ao vivo traz oito faixas gravadas em Los Angeles, em 8 de junho de 2007. A coleção é uma mistura de "Suedehead", coletânea lançada nos anos 90 abrangendo o melhor da fase solo do cantor em sua antiga gravadora EMI, com material posterior, com ênfase em seus mais recentes sucessos. O novo single "That's How People Grow Up", carro-chefe da compilação, será lançado em 4 de fevereiro.
1.First Of The Gang To Die
2.In The Future When All's Well
3.I Just Want To See The Boy Happy
4.Irish Blood, English Heart
5.You Have Killed Me
6.That's How People Grow Up
7.Everyday Is Like Sunday"
8.Redondo Beach
9.Suedehead
10.The Youngest Was The Most Loved
11.The Last Of The Famous International Playboys
12.The More You Ignore Me, The Closer I Get
13.All You Need Is Me
14.Let Me Kiss You
15.I Have Forgiven Jesus