domingo, 13 de abril de 2008

A queda


Enterre meus poemas na curva do Rio Nilo
queime o meu corpo
e deposite minhas cinzas
entre as flores
na costa do mar...
Minhas idéias e amores
flutuaram até meus inimigos
fidedignos.
Há lembranças que jamais
demitem-se de nós,
idêntico ás batidas do sino
da velha igreja em pedaços.
Quando eu morrer
almejo somente um desejo
encontrar-me com meus amigos...
A música será eterna
mesmo dentre nossos resíduos mortais.

Amores Brutos


A certeza da nossa finitude
revigora nossa única dilema:
somos sujeitos efêmeros e solitários
com destinos tão díspares e remotos.
Temos a nossa porção
de insignificância
ofertado gratuitamente
pela nossa ruína.
Cobaias da existência,
eis o nosso penar
e nossos antepassados
autores de histórias irrisórias
e promíscuas.
Somos camundongos rastejantes,
sedentos, que esfregan-se
no lixo
da piedade humana.
Há um deus que rejeita-nos,
há uma serpente
peçonhenta habitando
nosso âmago,
há inúmeras lágrimas jorrando
de um rosto embriagado,
desespeado,
pálido como um velho.
Sempre haverá a solidão
solidão
e mais solidão,
para seres inacessíveis
como você e eu
Johnny.